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Por que as Lojas Pernambucanas vai parar de vender smartphones?

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A rede de varejo Pernambucanas vai parar de vender celulares e smartphones em suas lojas, mas não sei se isso vai fazer alguma diferença nas nossas vidas, inclusive para aquele grupo de usuários que não pode pagar muito por um telefone e se beneficiava dos planos de parcelamento da rede varejista.

Digo isso não apenas porque existem outras opções para comprar smartphones com preços acessíveis, mas principalmente por conta da justificativa da Pernambucanas para se retirar desse mercado.

Não há qualquer esforço em reconhecer os próprios erros, já que é mais fácil abraçar a desculpa que está pronta: o mercado cinza.

 

Mercado cinza vs lucratividade

Veja bem…

Um executivo de um grande fabricante do setor de smartphones afirma que:

“A competição com o mercado cinza inviabiliza o negócio de celulares na Pernambucanas”

Ou seja, não é exatamente a Pernambucanas que dá essa justificativa, mas sim um dos fabricantes do setor de smartphones. Se a rede varejista não vai desmentir o que foi dito por terceiros, significa que existe um certo alinhamento de narrativas para a questão.

O que não necessariamente quer dizer que é a desculpa mais válida quando olhamos para os produtos comercializados pela Pernambucanas e o preço solicitado por esses produtos. Mas falo sobre isso daqui a pouco.

A Pernambucanas confirma a “saída gradual” da categoria de telefonia celular, com o objetivo de ser mais eficiente e focando em produtos com maior margem de retorno. Conforme os produtos ainda disponíveis em estoque forem vendidos, o portfólio não será reposto, causando uma certa “asfixia” no segmento dentro da rede.

Agora, vamos falar sobre os temas sensíveis que a Pernambucanas e os fabricantes não mencionam em nenhum momento, já que são temas sensíveis para os envolvidos.

Para começar, o modelo de vendas de lojas físicas está condenado. A grande maioria dos usuários está comprando smartphones nas lojas online, pois é mais barato (logística simplificada, não precisa pagar comissão para vendedores ou para a unidade física de uma marca ou rede varejista etc.).

A prova desse efeito de morte é que os quiosques de vendas de celulares estão desaparecendo, já que muitos clientes só usavam esses pontos de venda para ver os produtos de perto e obter impressões do que vai receber em casa para fechar a compra pela internet.

Se existe uma competição com o mercado cinza, é justamente nas vendas online. E esse é um assunto que já foi amplamente discutido: essa guerra comercial está impedindo que os clientes tenham o direito de escolher o produto que quiser, pagando o menor preço possível por ele.

O que a Pernambucanas não fala de jeito nenhum é que a rede passava longe de ser a opção mais competitiva na hora de comprar um smartphone.

Em diversas oportunidades, testemunhei a Pernambucanas e outras lojas de varejo nacionais (C&A, Riachuelo etc.) cobrando preços absurdos por telefones de entrada e linha média, sob o pretexto de facilitar as opções de parcelamento através do seu crediário.

Na prática, comprar um smartphone na Pernambucanas era algo muito mais caro do que em qualquer outro lugar, e com valores muito acima para os dispositivos que eram oferecidos.

A rede oferecia para os seus clientes smartphones de entrada e linha média muito mais caros do que os valores estabelecidos pelas marcas ou pela média de mercado. Nunca foram valores que beneficiam o consumidor no processo.

Logo, a culpa não é exatamente do mercado cinza, que naturalmente consegue ser mais competitivo pela ausência de burocracia e impostos aplicados aos produtos. Mas quando você não consegue competir com Amazon ou Mercado Livre porque seus valores são mais altos que essas lojas porque VOCÊ ESCOLHEU OS PREÇOS DOS SEUS PRODUTOS, aí a culpa de sua saída do mercado não é exatamente dos outros.

 

Vai fazer muita diferença na sua vida?

De verdade? Não.

Quantos clientes mais ávidos por tecnologia investiram dinheiro para comprar um smartphone nas Pernambucanas?

Isso mesmo: (quase) ninguém.

E até mesmo o grande público consumidor considerado mais leigo ou com menor poder aquisitivo já encontrava em outras redes de varejo as soluções perfeitas para compra de smartphones e outros dispositivos eletrônicos.

Por mais que a estratégia de parcelamento por crediário facilitasse a vida de muita gente na hora de comprar um smartphone, o consumidor brasileiro aprendeu a comprar online, perdendo o medo e ganhando confiança no comércio eletrônico.

Não faz muito sentido seguir com as vendas físicas, principalmente quando se utiliza dessa estratégia arcaica de vendas para se obter mais lucros por unidade vendida. Isso não faz o menor sentido.

Sei que a Pernambucanas passa por reestruturações internas na sua administração, e até penso que a decisão de saída do mercado de celulares faz sentido, considerando o cenário apresentado. Se manter nas vendas físicas por mais tempo poderia trazer mais problemas do que soluções para a rede a longo prazo.

Mas seria bem legal da parte da Pernambucanas também reconhecer a própria incompetência no processo.

Colocar toda a culpa nas costas dos outros é bem fácil. Principalmente quando tal retórica ajuda a ignorar os nossos erros ao longo da jornada.


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