Voltamos ao mesmo tema: as pessoas desistiram de ir aos cinemas?
O fracasso de “Furiosa: Uma Saga Mad Max” nos cinemas é algo a se lamentar. O filme está, no mínimo, em nível de honrar o legado de “Estrada da Fúria”, e se até mesmo um filme que é considerado um dos melhores da temporada não foi bem nas bilheterias, que dirá aqueles que não contam com a mesma capacidade de atrair público.
O que está estimulando as pessoas a não chegarem perto de uma sala de cinema? Não dá para colocar toda a culpa no streaming, então… o que acontece?
Alguns motivos
Na verdade, é uma combinação de fatores. Pelo menos três devem ser considerados para explicar o distanciamento das pessoas às salas de cinema:
- A pandemia da COVID-19 (que ajudou a criar hábitos de consumo de entretenimento
- A explosão do streaming (que se beneficiou da pandemia)
- Os preços elevados da experiência cinematográfica (no Brasil, a média de custos totais para ir ao cinema flerta com os R$ 100 em algumas cidades brasileiras)
Podemos considerar também o fato de o “novo normal” entregar outras opções de entretenimento que competem com o cinema, como os videogames, viagens, concertos musicais e interações pessoais com parentes e amigos. Tudo isso concorre com o cinema, que se tornou um “mais um” na vida de muita gente.
Em paralelo a isso, os números mostram uma clara queda de interesse da audiência em relação aos cinemas e filmes projetados nas salas. Em 2023, o volume de ingressos vendidos registrou queda de 31% em comparação com os números de 2019 (antes da pandemia), e essa tendência de queda deve se confirmar em 2024, com projeção de 5% a menos em relação a 2023.
Mas o principal motivo para que as salas de cinema fiquem vazias é mesmo o último.
Preços caros demais
O grupo etário que lotava as salas de cinema era os jovens. E nesse momento, é uma galera que está precisando economizar dinheiro para pagar o aluguel, com salários que não são elevados. Logo, ver um filme em casa é sempre mais econômico.
A mesma regra pode ser aplicada para as famílias numerosas. Se para uma única pessoa ir ao cinema é uma experiência cara (considerando o preço do ingresso, do estacionamento ou deslocamento de casa até o shopping, bomboniere ou lanche etc), pense na família com pai, mãe e dois filhos.
E não podemos dizer que recebemos sempre a melhor experiência nos cinemas. Algumas salas não entregam a melhor manutenção na limpeza, som de baixa qualidade e até imagem empobrecida, com brilho mais baixo e outras questões técnicas que jamais deveriam acontecer.
Se as grandes redes de cinemas permanecerem com um modelo de negócio arcaico e incompatível com a modernidade que temos hoje, não temo como negar o óbvio: o cinema está em séria ameaça.
Não podemos ignorar outros problemas atrelados típicos de uma indústria cinematográfica que se vê engessada e contra a parede.
Por exemplo, janelas de lançamento cada vez mais curtas, com vários filmes chegando no streaming poucas semanas depois da estreia nas salas. Os mais pacientes simplesmente esperam mais um pouco e assistem em casa ao filme, economizando uma boa grana por isso.
A saturação das franquias também entra nessa conta, já que só temos prequels, sequels e spin-offs, com pouco espaço para filmes originais. Aliás, faz tempo que afirmo que “a criatividade está morta e enterrada em Hollywood”, mas o que sobrou dessas novas ideias está hoje no streaming, o que motiva ainda mais as pessoas a ficarem em casa.
Não é difícil entender por que o cinema está morrendo. Bom, pelo menos para nós, que pagamos os ingressos. A impressão que fica é que quem decide quanto esses tickets vão custar e o que vamos assistir pelos caros valores cobrados são justamente aqueles que enfrentam maiores dificuldades em compreender o cenário geral e o tamanho do buraco que se formou.
E sem esse entendimento do que a audiência está passando, não dá para ver uma salvação para os cinemas a médio e longo prazo.
Se bem que… eu já me despedi dos cinemas lá atrás. Se a morte vier, já fiz a minha parte.