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Como combater o etarismo na era da IA

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O avanço tecnológico tem trazido à tona a questão do etarismo, uma forma de discriminação baseada na idade, especialmente evidente no setor tecnológico. Pesquisas indicam que, embora mais idosos estejam familiarizados com a internet, poucos fazem uso efetivo dela, revelando um gap digital significativo.

Esse abismo pode ser tornar ainda maior com a chegada das ferramentas de Inteligência Artificial. Mesmo com muitas plataformas adotando soluções multimodal (suportando interações de texto, voz e imagens), a mecânica de uso dessas plataformas ainda é relativamente complexa para as pessoas mais velhas.

Desde já os olhares para esse novo desafio são colocados para análise, em busca de soluções para inclusão dos idosos nessa nova era da tecnologia.

 

Estatísticas, preconceitos e estereótipos

Dados da pesquisa Sesc São Paulo e Fundação Perseu Abramo mostram que 81% dos maiores de 60 anos conhecem o termo internet, mas apenas 19% usam a rede efetivamente. Isso indica uma necessidade de políticas mais inclusivas e de um design acessível que favoreça essa população.

Alguns estereótipos sobre a capacidade tecnológica dos idosos persistem, levando a uma subestimação de seu potencial de adaptação e aprendizado. Segundo Rafael Ataide, diretor de Data & Tech da Adtail e pós-graduado em Ciência de Dados e Inteligência Artificial pela PUCRS, esses preconceitos são prejudiciais e acabam se refletindo nos algoritmos de inteligência artificial, que perpetuam essas tendências sociais.

Não podemos nos esquecer que os algoritmos são treinados por humanos, ou pelos dados produzidos por pessoas na mecânica do “machine learning”, ou aprendizagem de máquina. Ou seja, os traços de coletivo são absorvidos por essas ferramentas, incluindo os preconceitos e estereótipos.

Um exemplo disso está nos algoritmos de IA utilizados em processos seletivos, que tendem a favorecer candidatos mais jovens, discriminando os mais velhos com base em suposições errôneas sobre suas habilidades. A falta de transparência e responsabilidade na gestão dessas tecnologias agrava ainda mais a situação.

 

Os idosos se interessam por tecnologia, mas não são incluídos nela

Pesquisas da Offer Wise e CNDL/SPC Brasil apontam que 97% dos idosos tinham acesso à internet em 2021, um aumento significativo em comparação com os dados registrados em 2018. A maioria utiliza smartphones, demonstrando que o interesse pela tecnologia está presente, mas a falta de acessibilidade é um obstáculo.

A exclusão digital dos idosos é resultado da frequente falta de equipamentos acessíveis e da negligência em relação às suas necessidades específicas. Rafael destaca que a inclusão dessa população nos avanços tecnológicos requer mudanças e melhorias no design das interfaces dos dispositivos, além de uma navegabilidade adequada nas plataformas.

A ausência de idosos nas equipes de desenvolvimento tecnológico é outro fator que contribui para a criação de soluções que não atendem às suas necessidades. Promover diversidade etária nas equipes pode ajudar a criar tecnologias mais inclusivas.

São necessárias medidas de transparência e responsabilidade para combater o etarismo na era digital e no mundo com a IA dominando as tecnologias. Desde o desenvolvimento até a implementação desses sistemas, a diversidade dos dados de treinamento combinada com auditorias regulares pode ajudar a resolver o problema.

Além disso, a supervisão humana sobre o treinamento e os resultados produzidos nos estudos são fundamentais para melhorar essa viabilidade de uso das plataformas de IA pelos idosos.

Lembrando sempre que a questão do etarismo na tecnologia não é apenas técnica, mas também cultural. É necessário mudar a percepção sobre o envelhecimento para promover uma sociedade mais inclusiva e preparada para os desafios do futuro, em todos os aspectos.

Precisamos parar de enxergar o idoso como “uma pessoa velha”. Muitos daqueles com 60 anos ou mais estão lúcidos, ativos, funcionais e desenvolvendo campos de racionalidade constantemente.

Por outro lado, até mesmo aqueles que passaram a vida inteira sem ter contato com as tecnologias modernas estão curiosos para compreender como os dispositivos funcionam, e estão abertos para esse processo de aprendizado e educação digital.

Fazer com que a tecnologia converse com essas gerações e, ao, mesmo tempo, se torne ferramenta de educação digital da geração 60+ é mais do que um desafio. É uma missão para todos que estão envolvidos com esse universo de alguma forma.


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