Durante as últimas semanas, estão acontecendo protestos e manifestações constantes na Ucrânia. O que começou como algo pacífico tomou características mais violentas à medida que a repressão policial se intensificava contra os participantes. Ao ponto de tamanha repercussão resultar a queda do governo local.
E o que os smartphones tem a ver com isso? Tudo. Afinal, os manifestantes mais uma vez utilizaram os seus dispositivos como elemento para fazer barulho, contando ao mundo em tempo real o que está acontecendo. Isso, e muito mais.
Os ucranianos começaram a receber nos seus smartphones a seguinte mensagem:
Estimado cliente: você foi registrado como participante em uma manifestação popular.
Populares e jornalistas que acompanhavam uma das muitas manifestações recebiam essa mensagem, que mesmo sem ser assinada, dava a entender que vinha das operadoras locais. As operadoras, por sua vez, negam o conhecimento da mesma e o envio da mensagem. Não ficou claro para quem era tal mensagem até agora. Acredita-se que ela foi disparada apenas para os dispositivos próximos de certas torres de telefonias móveis (o que poderia evidenciar uma vigilância em massa vindo – supostamente – do governo ucraniano), mas o New York Times garante que até anciãos que não participaram das manifestações receberam.
Tais mensagens receberam críticas de todo o mundo, uma vez que tinha o caráter “Big Brother”, ou seja, “o governo está vigiando o que a gente faz”. Tais mensagens SMS eram enviadas através de um IMSI catcher, uma torre de telefonia “falsa”, que atua como intermediária entre o smartphone do usuário e a torre.
Um sistema localizado próximo das manifestações serviria para obter uma lista com os telefones que se encontravam nas proximidades.
O smartphone também serviu como ferramenta de denúncia. Uma imagem publicada nas redes sociais mostrou como agentes das autoridades ucranianas humilhavam um homem preso pelos distúrbios, obrigando o mesmo a ficar nu, na neve, enquanto policiais tiravam fotos e se divertiam. O ato dos agentes se assemelha muito aos incidentes de Abu Ghraib, quando militares norte-americanos humilhavam presos locais.
Um vídeo com a ação foi enviada de forma anônima para o YouTube, e rapidamente esse vídeo foi reproduzido em redes de TV de todo o mundo. E isso ajudou a mostrar como estavam as coisas por lá.
Além disso, as redes sociais serviram para dar visibilidade aos primeiros protestos na Ucrânia, em novembro. O uso dessas ferramentas através dos smartphones serviu para os cidadãos se informarem sobre os acontecimentos em tempo real, mas também para organizarem os protestos.
A prova disso é que, em dezembro, o volume de tweets com a hastag #euromaidan tiveram um aumento de volume considerável, justamente no horário onde a intervenção policial se tornou mais intensa.
Porém, um estudo mostra que as mensagens em SMS e as chamadas telefônicas foram os meios mais utilizados para convocar as massas e informar os próximos movimentos.
Fotos e vídeos sobre os eventos foram aparecendo por toda a internet. YouTube, Instagram e outras plataformas foram utilizadas de forma intensa pelos ucranianos. Mesmo com muitos jornalistas cobrindo as manifestações, os cidadãos não tiveram dúvidas em utilizar os smartphones, e praticar o chamado “jornalismo cidadão”.
Como já ocorreu em outros protestos ao redor do planeta, alguns usuários inclusive montaram o seu próprio serviço de streaming em suas casas e smartphones, de modo que qualquer pessoa, a partir de qualquer lugar, poderia seguir os eventos ao vivo.
Os smartphones mudaram a forma do ser humano protestar, afetando as autoridades de forma mais incisiva. Ao mesmo tempo, também podem ser mecanismos das autoridades vigiarem os cidadãos e suas atividades. Com o assunto do envio das mensagens SMS sem ter um esclarecimento definitivo (há quem diga que foi o Governo, outros afirmam que foi um “hacker” com acesso à torres de telefonia), e com tudo o que é vazado sobre a NSA e outras agências de inteligência, está mais do que claro que os smartphones são importantes ferramentas de protestos. Ou armas para nos controlar.